segunda-feira, 15 de novembro de 2010

É TEMPO DE PEQUI




Pequis roletados
jjLeandro · Araguaína, TO

É tempo de pequi (Caryocar brasiliense) no Tocantins. Essa maravilha do cerrado está presente em todo o estado, sendo componente da alimentação de todas as classes sociais. Desde a ocupação colonial tornou-se alimento nobre e indispensável da culinária tocantinense cuja safra é esperada com ansiedade pela população nos últimos meses do ano.

O pequi merece a nossa atenção desde pouco antes do meio do ano quando emite os primeiros sinais que deixam claro ao sertanejo se a safra será boa ou não. Isso mesmo. Como outras frutas do cerrado, entre elas o buriti, o pequi não tem uma produção constante ano após ano. Quando a árvore troca a folha verde-escura pela roupagem verde-clara no outono, é garantia de que a produção será boa.

E não dá outra. Ali pelo mês de julho estará florida, carregada de flores de filamentos e pétalas brancas.

Sabe o sertanejo que poderá valer-se de outros dividendos enquanto aguarda a produção garantida: várias espécies de animais procuram o pequizeiro para alimentar-se das flores que caem. Entre elas, caças nobres como o veado, a paca e o tatu. É empoleirar-se no pequizeiro durante a noite, no que por aqui chamam ‘espera’, para levar para casa a carne que será servida à mesa no dia seguinte. Como a prática é hábito transmitido há gerações, não há receio de destruição da fauna. Vale a garantia do alimento que, para muitas populações pobres do interior, é a única servida à mesa.

Quando o ciclo da floração é interrompido pelos frutos que intumescem nos cachos às extremidades dos galhos da árvore, praticamente desaparece a freqüência de caça. O sertanejo entretanto não se preocupa, as vitualhas voltarão a aparecer à mesa pouco tempo depois: durante a maturação dos frutos.
Entre outubro e novembro, a safra alcança o pico. Os pequizeiros carregados deixam desabar no chão com os ventos das chuvas as grandes frutas maduras. É quando os animais silvestres voltam a freqüentar as frondosas árvores e com eles os caçadores. A ‘espera’ volta a ser prática rotineira e o saboroso fruto bem se pode casar nas refeições a um assado de veado.

Bom é o pequi que cai

O sertanejo sabe que a fruta estará apta para o consumo quando cai do pé. Não deve colher os grandes frutos no cacho, pois acontece de a maioria assim colhida murchar e quando ‘roletada’ (abertura da casca com faca pela cintura) não desprender o caroço polpudo da casca.

O pequi caído do pé sofre a ação do calor do sol e do solo, amolecendo a casca. Após um ou dois dias, esse processo deixa-a tão mole que é capaz de dissolver ao toque da mão, liberando o caroço. Nem sempre o pequi nesse estágio pode ser aproveitado para o consumo humano, haja vista o risco de já estar contaminado pela putrefação. No entanto é alimento apreciado pelos animais silvestres. Tatus e pebas costumam enterrar o pequi para apressar a putrefação e liberar o caroço, voltando depois para degustar o fruto. Muitos assim enterrados e esquecidos nascem depois.
As feiras nas cidades tocantinenses, em outubro e novembro, exibem à venda os pequis colhidos no cerrado. Nas margens das rodovias são freqüentes sacos e mais sacos cheios dos frutos à venda para os motoristas.

Há muitas maneiras de comer o pequi. Os mais apressadinhos devoram-no cru, arrancando com a faca grandes lascas da polpa que comem com farinha – seca ou de puba. É um prato próprio para estômagos resistentes ou acostumados à ingestão. É desnecessário dizer o efeito colateral para pessoas não “aclimatadas”.

Versatilidade

Mas a culinária tocantinense reserva pratos variados para todos os gostos e estômagos cujo ingrediente principal é o pequi. Ele poderá unir-se ao arroz, ao feijão, à carne, ou solitário temperado com cebolinha e outros condimentos, com ou sem molho. Ah! A galinha caipira com pequi é o manjar dos deuses para os tocantinenses. Não somente aqui, sei, em Goiás também é muito apreciado. Mas falo de minha terra.

Quem pensa que a prodigalidade do pequi encerra-se na mesa subestima-o. A fruta pode ser aproveitada para extração do óleo comestível, que tem inclusive propriedades medicinais, licores e sucos. O caroço, ou somente a polpa extraída dele em tiras, pode ser usado para conserva.

Desde que o colonizador travou contato com o pequizeiro que lança mão de sua madeira para a construção ou transformação em carvão vegetal. Os pequizeiros maduros (velhos) forneceram ao longo de séculos de colonização boa madeira para currais e emprego em cavernas de embarcações na região do rio Tocantins.

Hoje, apesar da proteção estabelecida em lei, o pequizeiro é extremamente ameaçado pelo avanço agropecuário e emprego na indústria do carvão vegetal. Por causa disso, pode chegar um dia em que nem a sua tão decantada propriedade benéfica à memória será capaz de torná-lo lembrado pelas gerações futuras. Sabemos todos, e isso é chiste por aqui, que quem se delicia com o pequi é capaz de se lembrar da ingestão mesmo que arrote horas depois de tê-lo consumido. O gosto forte que retorna à boca é o responsável pela lembrança.
Fonte: www.overmundo.com.br

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A GUERRA DO PEQUI

04/11/2010
Adilson Cardoso

De longe, Alípio Capataz avistou um vulto que inexplicavelmente desapareceu na mata, como se fosse aparição que vem mandada do reino dos mortos ou bicho homem montando tocaia. Puxou forte as rédeas da égua parda e assuntou, fez o sinal da cruz no peito, ajeitando a cartucheira, certificou-se de que o gatilho estivesse no ponto...

Vendo que nenhum movimento anormal deu continuidade, ele prosseguiu no trote do animal, destampou a binga e acendeu um cigarro de palha imaginando os passos seguintes e foi se aproximando do local. A égua bufava com o cansaço de muitas léguas e os sacos cheios de pequi dependurados, mas não pedia arrego, entendia que o dono precisava seguir sem paradas até o ponto em que a segurança fosse avistada. Eram muitas luas de companheirismo rasgando o sertão com a própria pele entre esponjeiras e carrapichos, urtigas e cansanção.

Alípio de vez em quando levantava a cabeça para observar toda a sua volta e recordava as últimas palavras do coronel Januário Simplício, sentindo um arrepio medonho como se algo estivesse prestes a acontecer. De repente, veio um cheiro de sangue lhe invadir as narinas e o coração disparou dando cutucadas no peito, mas não desanimou.

Da mesma maneira em que chegavam os presságios ruins, a voz valente de matuto corajoso devolvia:

- Vai, agoro do capeta, volta pro mei do Zinferno!

Mas a jura que o coronel havia feito após constatar que o seu filho Erisvaldo já era defunto não fugia do seu consciente. Ele sabia que, se treitasse, a morte vinha lhe buscar, pois ali era sertão sem alma, lugar onde cada nascer do dia que acordasse com vida era motivo de comemorar. Alípio não se arrependia por ter matado o filho do coronel e os outros pestes da família que se encontravam naquela hora. Foi um pouco mais digno, já que velhos e crianças foram poupados. Se não matasse, com certeza estaria morto. Mas se arrepende ao pensar que o velho ficara vivo. -É velho, mas não presta! - pensava resmungando. - Eu bem sei que cobra machucada vai longe pra picar e o veneno é ainda mais matador!

Desde que o pequi entrou em extinção, o preço da fruta do cerrado literalmente vale mais que ouro. Velhos garimpeiros que se entregavam nos fundos de minas e de rios sonhando com a sorte de uma isca de pedra preciosa agora se embrenham nas caatingas altamente vigiadas por jagunços de coronéis, no intuito de achar nem que seja um só para salvar o ganho do sustento.

Erisvaldo Simplício era temido e respeitado, sua violência interior não deixava que compaixão fizesse parte do seu vocabulário, um facínora mais cruel que qualquer cangaceiro um dia foi. Comandou uma das maiores chacinas contra catadores de pequi que a história pode contar. Famílias inteiras que tinham pequizeiros em suas terrinhas foram assassinadas e deixadas para servir aos urubus.

Alípio Capataz viu mãe, pai e os irmãos serem trucidados na sua frente pelo filho do coronel. Ele só conseguiu escapar com vida porque pensaram que o tiro que lhe deram na cabeça havia sido o suficiente para matá-lo, só que a sorte deixou que fosse apenas de raspão. Depois do episódio, passou longos anos perambulando pelas matas, se escondendo das chuvas embaixo das grutas e fazendo da solidão sua capa de aço que escudou a vingança, até o dia em que o sangue do maldito escorreu sob os seus pés.

Passou do local onde a cisma lhe mostrara o vulto e sorriu aliviado, sabendo que era apenas um caatigueiro que cruzou a estrada para beber num fiapo de rio que escorria embaixo de uns pés de baraúna. Passou as mãos apalpando os pequis e disse suspirando:

- Agora, eu vou embora! Vou comprar minha tranquilidade nas terras de São Saruê.

Fonte: www.onorte.net

ONDE ADQUIRIR MUDAS DE PEQUI?

30/05 - EMBRAPA TEM MUDAS DE PEQUI PARA VENDER


Onde posso adquirir caroços de pequi em grande quantidade, para cultivo?
Faisal Salmem - Belém (PA)



O viveiro de mudas frutíferas da Embrapa Cerrados, em Planaltina (DF), vende mudas de pequi. Cada muda custa R$ 4 e deve ser retirada pessoalmente no viveiro da unidade. O leitor pode entrar em contato com a Embrapa para verificar a disponibilidade de quantidade de mudas. O endereço da Embrapa Cerrados é BR 020 Km 18, Planaltina (DF), CEP 73310-970, Caixa Postal 08223. Consultas podem ser feitas pelo telefone (0--61) 3388-9854.


O pequi é uma fruta nativa do cerrado brasileiro, muito utilizada na cozinha nordestina, do Centro-Oeste e norte de Minas Gerais. Dela é extraído um azeite e seus frutos também são consumidos cozidos, puros ou em receitas culinárias. O sabor e o aroma dos frutos são marcantes e peculiares.
Do site www.todafruta.com.br

domingo, 14 de novembro de 2010

O pequi na Revista Brasileira de Fruticultura

Revista Brasileira de Fruticultura
Print version ISSN 0100-2945
Rev. Bras. Frutic. vol.29 no.1 Jaboticabal Apr. 2007
doi: 10.1590/S0100-29452007000100035
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
GENÉTICA E MELHORAMENTO DE PLANTAS



Pequi (Caryocar Brasiliense Camb.): informações preliminares sobre um pequi sem espinhos no caroço1



Pequi (Caryocar Brasiliense Camb.): preliminary information about a pequi plant without spunes in the seed kernel





Warwick Estevam KerrI; Francisco Raimundo da SilvaI; Bdijai TchucarramaeII

IInstituto da Genética e Bioquímica, Universidade Federal de Uberlandia. kerr@ufu.br
IIAldeia da Etnia Tchucarramae Mato Grosso


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RESUMO

É relatado o achado de uma planta de pequi (Caryocar brasiliense Cambi) no Norte de Mato Grosso, sem espinhos no caroço (figuras 1 e 2).
O pequi é a 3ª fruta mais consumida pelas populações do cerrado brasileiro e o seu único defeito é ter o caroço cheio de espinhos.

Termos para indexação: melhoramento, seleção natural, descoberta.


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ABSTRACT

One pequi plant, (Caryocar brasiliense Camb. Caryocaraceae) whose fruits had no spines in the kernel, was found in the Noth of Mato Grosso (figures 1 and 2). This is the third most consumed fruit by the populations of the Brazilian Cerrado and its only deffect is to have the kernel full of spines. The history of its discovery is related.

Index terms: improvements, natural selection, discovery


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INTRODUÇÃO

As Caryocaraceae são encontradas no neotrópico e têm dois gêneros: Anthodiscas (folhas opostas), cujas espécies vão de Santa Catarina até a Costa Rica, e Caryocar. O nome Caryocar vem do grego Karyon=noz, núcleo + caro= carne. Têm folhas alternas. Na Reserva Ducke (Manaus-AM), três espécies foram identificadas por Prance e Silva (1973): Caryocar glabrum, C.pallidum (=piquiarana), e C. villosum (=piquiá).Em Minas, São Paulo, norte do Paraná, Goiás, Mato Grosso, Tocantins, sull da Bahia, sul do Pará, sul do Maranhão, em todas as regiões de Cerrado, a espécie comum é a Caryocar brasiliense Camb. Os pequis florescem, na Amazônia, de agosto a dezembro e frutificam de novembro a março. Observamos que um conjunto de plantas do cerrado de Uberlândia floriu de 2 de abril de 2005 até 6 de maio de 2006.

Em todos os cerrados por que passamos, em época da floração, é comum que caçadores venham das 4 às 6 horas da manhã vigiar os pequizeiros em flor que as derrubam às centenas e atraem veados, pacas, cotias, porcos-espinho, capivaras, que têm especial predileção por elas. Isso é confirmado por Almeida et al. (1994). A produção é muito variável. A planta que produz pequi sem espinho no caroço , que encontramos, produziu ao redor de 500 frutos em 2004 e apenas 30 em 2005. Gribel (1986) constatou que 3% dos ovários de C. brasiliense se desenvolveram, mas apenas 1% chegou até semente. Morcegos são os grandes polinizadores. O mesmo autor informou que a dispersão dos frutos é realizada por gambás (Didelphis albiventris) e por uma gralha (Cyanocorax cristatelus). Em todas as áreas em que estivemos, o pequi é considerado afrodisíaco para os homens e fortificante para as mulheres grávidas. Essa segunda qualidade pode ser verídica devido à alta quantidade de vitamina A do pequi, já que 100 gramas de polpa comestível de pequi contém 20.000 mg de vitamina A, 12 mg de Vitamina C, 30 mg de vitamina B, 463 mg de riboflavina e 387mg de niacina (Franco,1982).Toda a população pobre dos estados brasileiros ocupados pelo pequi, de setembro a dezembro, consome o pequi em boa quantidade, com arroz, com carnes, em sopa, com angu, em doce de massa e na cachaça. A região do pequi ocupa quase 2.000 municípios e estima-se em cerca de 40.000 os coletores para vender os frutos ou os caroços aos compradores ou atravessadores. As milhares de pequenas farmácias e curandeiros das vilas e cidades dessa região, nessa época, são procurados por cerca de 3.000 pessoas (crianças e adultos) para retirarem os espinhos deixados pelos caroços no céu da boca de comedores descuidados. Essa característica é o principal defeito que elimina o pequi (Figura 1) de ser cultivado em casa e de sequer ser considerado uma fruta de mercado. É uma das frutas mais ricas em vitamina A, que é a principal deficiência alimentar dos pobres do Brasil.


O pequizeiro também é considerado árvore ornamental devido ao seu porte e à beleza das flores, que atraem beija-flores e diversas espécies de abelhas durante o dia. Todavia seus principais polinizadores são os morcegos e mariposas noturnas. As folhas do pequi são usadas em Minas e Goiás na alimentação do gado bovino, caprino, ovino e, em alguns lugares, das galinhas.Collevatti et al. (2003) estudaram 10 populações de Caryocar brasiliense e concluíram que múltiplas linhagens foram necessárias para dar origem às populações hoje existentes no Cerrado brasileiro. Melo Júnior et al. (2004), em um estudo em 4 lugares, Japonvar, Montes Claros, Francisco Sá e Bocaiúva, que compreendeu 240 plantas, concluíram: a) que houve um fluxo gênico muito grande, que atribuiu à polinização ser feita especialmente por morcegos que voam a longas distâncias. Há um alto índice de diversidade genética que sugere genes heteróticos. Também, constataram maior semelhança entre as populações de Japonvar, Montes Claros e Bocaiúva que atribuíram a menor distância entre elas (35 km). Indicaram que uma coleta de 82 matrizes é o valor mínimo de coleta para se manter a variabilidade Genética. Conhecido como a "carne dos pobres" no norte de Minas, o pequi apresenta um grande valor nutricional. Em 100 g de polpa de pequi, encontra-se 271,1 calorias, 13,5% de proteínas, além de vitaminas, cobre, ferro, etc . (Almeida & Silva, 1995). Segundo Ribeiro (2000), além de sua relevância para a alimentação de famílias do Cerrado, o pequi também se constitui em fonte de renda para uma parcela da população da região. Muitas pesquisas vêm sendo feitas com o pequi devido a sua importância social. Minas Gerais e Goiás reúnem 63,8% da produção nacional do pequi. Em Minas, apenas duas regiões são grandes produtoras: norte de Minas e Jequitinhonha. De toda a produção apenas 39% é vendida, evidenciando a importância do pequi para o auto-consumo das famílias coletoras e seus amigos. Da parcela comercializada, 79,4% é entregue a intermediários, 12,2% se destina à venda direta ao consumidor e 7,3 % vai para a indústria (Censo Agropecuário, 1996).

DESCOBERTA PARA A CIÊNCIA DO PEQUI SEM ESPINHOS NO CAROÇO.

No começo de outubro de 2004, um dos autores, Warwick Estevam Kerr, conversando sobre melhoramento de plantas com o Sr. Hélio do Carmo da Conceição (fazendeiro, Prefeito de São José do Xingu), que estava em Uberlândia tratando-se de câncer, informou-o de que, no norte do Tocantins, havia um fruticultor, Sr. Bdijai Tchucarramae, que possuía uma plantação com mais de 300 plantas de pequi, sendo que uma dessas plantas apresentava frutos sem espinhos no caroço (Figuras 1 e 2). Imediatamente, mediante suas indicações, organizamos uma mini-expedição para aquela região chefiada por outro dos autores, o Técnico Agrícola Francisco Raimundo da Silva. Conseguimos fundos do CNPq, condução da UFU, e no dia 07-11-04, na Caminhonete Mitsubshi da UFU e, dois motoristas saíram em direção a São José do Xingu com a finalidade de coletar sementes do pequizeiro em pauta. Lá chegando, o Técnico Francisco Raimundo da Silva tornou-se amigo do Sr. Bdijai Tchucarramae e conseguiu adquirir 9 sementes, e trazer alguns galhos. Das 9 sementes 7 germinaram. No mês de dezembro de 2005, uma nossa segunda expedição deslocou-se novamente até São José do Xingu e, dessa vez, o Técnico Francisco Raimundo da Silva conseguiu trazer 3 sementes e 15 galhos para tentar pegamento por estaquia. Como o pegamento foi zero, conseguimos fundos para enviar o Técnico Francisco Raimundo da Silva a Goiânia, por 6 dias, a fim de especializar-se na enxertia de pequizeiro. Fez 6 enxertos, dos quais 4 pegaram. Assim, o fato de se ter encontrado uma planta que produz frutos com caroços sem espinhos e uma boa técnica de propagação, tornou-se uma esperança para, dentro de 4 a 8 anos, termos boa distribuição de mudas de pequi sem espinho no caroço. Também essa mutação tem todas as características para transformar o pequi numa fruta de mercado, tanto para as populações pobres como para mercados regulares de frutas nacionais e estrangeiras. Isso não somente melhorará o pequi para maior consumo, como também se poderá indicá-lo para plantio em pomares caseiros, aproveitando a alta apreciação que já possui. Todas as vezes que informamos que estamos trabalhando com "pequi sem espinho no caroço", obtemos imediata atenção e procura por sementes e mudas desse mutante. Todos que experimentaram os caroços carnudos, acharam-nos um pouco mais doces que os comuns e muito melhores devido à falta de espinhos.

Fonte: scielo.br

Foto curiosa de um pé de pequi no meio da rua



Foto de um pequizeiro no meio da rua em Jaciara, Goiás

Ficheiro com o mapa de Minas Gerais- localização de Pequi


Fonte: Wikipédia

Fotos de Pequi, cidade de Minas Gerais








Fonte: www.cidades.net.com/pequi

Fonte: www.cidadesnet.com/municipios/pequi.htm

Pesquisa desenvolve pequi sem espinhos

Embrapa Cerrados quer modificar geneticamente a fruta originária do Brasil Central, para conseguir mais sabor e melhorar as características nutricionais e culinárias
Rodolfo Borges - Correio Braziliense

Divulgação/Sebrae - 17/8/04

Produção em Japonvar, no Norte de Minas, é formada por cooperativas para beneficiamento da fruta
Brasília – Um pequi sem espinhos e com o sabor mais apurado começa a ser desenvolvido a partir deste mês pela Embrapa Cerrados, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Um projeto coordenado pelo agrônomo Sebastião Pedro da Silva Neto pretende reunir em um único exemplar as melhores características da fruta-símbolo do cerrado, que, além de se destacar na culinária da Região do Norte de Minas e do Centro-Oeste do país, pode ser utilizada para a produção de biodiesel.

Como não existem pesquisas anteriores com o intuito de melhorar o pequi, os cientistas começaram o trabalho do zero. Uma planta cujos frutos nascem sem espinho serve como uma das bases para o trabalho. "Ela foi encontrada na natureza e provavelmente apresenta essa peculiaridade devido a uma mutação", explica Neto, que também pretende aumentar a quantidade de polpa da fruta e tornar os exemplares saborosos mais frequentes.

"Existe uma variedade muito grande de pequis. Em alguns, mal se encontra polpa, e nem todos são saborosos", afirma o doutor em biotecnologia agrícola. Segundo ele, uma pesquisa como essa também vai ajudar a preservar o patrimônio genético da fruta, ainda não explorado. A equipe responsável pelo trabalho é composta por 15 pessoas, entre profissionais e estudantes das áreas de genética, biotecnologia e meio ambiente.

Além de identificar os componentes responsáveis pelas melhores características da fruta, o grupo terá de descobrir a forma ideal de reprodução desse tipo de pequi. Como a polinização do pequizeiro é cruzada, não se pode garantir que uma árvore tenha a mesma característica da planta de origem. Além disso, os métodos clássicos de clonagem, como o enraizamento de estacas ou a enxertia, não funcionam com o pequi. Por isso, os pesquisadores pretendem estudar outros três caminhos possíveis.

O mais simples deles é a germinação in vitro. "Podemos resgatar o embrião da semente, que, no pequi, leva muito tempo para se desenvolver", explica o pesquisador. "Não sabemos a razão dessa dormência, que impede o rápido desenvolvimento da semente, e a pesquisa pretende investigar isso", diz. Um trabalho nesse sentido pode inclusive assegurar a preservação da espécie, que, em alguns anos, deve se encontrar ameaçada por lavouras.

Outra possibilidade é utilizar a organogênese, um procedimento que busca originar um indivíduo completo a partir de uma célula qualquer da planta que se deseja clonar. É algo semelhante ao que se pretende fazer com as células-tronco em humanos, só que em um campo onde os dilemas éticos são bem menos polêmicos. Essa é a opção que, segundo os pesquisadores, apresentaria os melhores resultados.

Por meio da embriogênese somática, os cientistas seriam capazes de transformar qualquer célula em um embrião. Por ser pequeno, esse embrião permitiria seu desenvolvimento em larga escala sem precisar de muito espaço e, com uma proteção artificial, semelhante a uma semente, seria comercializado com facilidade. "Em termos de tecnologia, isso abriria possibilidades incríveis, mas esse é o procedimento mais complexo dos três", explica Neto, que lembra que não há registros de embriogênese somática no Brasil.

Perigo para os desavisados

Fruta nativa do cerrado brasileiro, o pequi (do tupi, pyqui, casca espinhosa) é usado tradicionalmente na elaboração de doces, licores e pratos regionais do Brasil Central, como o arroz e o frango com pequi. O fruto, que também responde pelo nome científico Caryocar brasiliensis, é famoso pelos finos espinhos que envolvem seu caroço e costumam machucar os desavisados que mordem a fruta em vez de raspar cuidadosamente sua polpa com os dentes.

Semelhante a uma laranja pequena, o pequi é rico em vitaminas A, C e E, em sais minerais (fósforo, potássio e magnésio) e em carotenoides, que previnem tumores e o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. A castanha do pequi, que se encontra dentro do caroço, é comestível e saborosa. Rica em zinco e iodo, ela contém cálcio, ferro e manganês e costuma ser utilizada na indústria de cosméticos para a produção de sabonetes e cremes feitos para fortalecer a pele.

O pequizeiro apresenta raízes profundas, mas com capacidade para se desenvolver horizontalmente em solos rasos. A árvore do pequi pode ser usada para a recuperação e reflorestamento de áreas e produção de madeira para xilografia, construção civil e naval. O óleo do pequi, extraído de sua castanha, também serve para a fabricação de biodiesel.

Fertilizantes

A agricultura brasileira é bastante dependente de fertilizantes e 70% desse produto são adubos químicos importados, responsáveis por um gasto de R$ 3 bilhões anuais. Com o objetivo de reduzir a dependência desses produtos e aliviar os custos do agronegócio, a Embrapa Cerrados realiza hoje um evento, em Palmas, Tocantins, para promover o projeto de avaliação do uso de minerais como fertilizantes. Cerca de 100 pesquisadores trabalham no projeto, que tenta determinar as características das rochas brasileiras que podem ser aproveitadas na agricultura. O evento pretende mostrar a pequenos agricultores as possibilidades de reaproveitar minerais da própria região.
Fonte: www.uai.com.br
setembro de 2009

O ex-ministro Hélio Costa e o pequi

terça-feira, 7 de julho de 2009
Hélio Costa apóia a redução de pés de pequi e o aumento do eucalipto.
O pior ministro do governo Lula, o Hélio Costa, juntou-se aos fazendeiros do Norte de Minas para intermediar junto ao Governo Federal para “expandir a área produtiva” na região norte-mineira, que, diga-se de passagem, já assistiu ao corte de milhares de pés de pequi que viraram carvão - árvore símbolo de Minas Gerais e que é protegida por lei.
Para o ministro Hélio Costa, “é preciso que o Norte de Minas não seja excluído do processo de desenvolvimento econômico e social, fundamental para a redução das desigualdades regionais”.

Ingrediente tradicional da culinária do Norte de Minas, o pequi tem sido motivo de preocupação não só para os pequenos agricultores, mas também para os pesquisadores. Além do pequi, outras espécies de árvore típica do cerrado continuam desaparecendo, mesmo com uma legislação mais severa. Imagine se voltarmos à época dos caminhões entupidos de carvão com destino a Sete Lagoas? Por isso é que é importante uma mobilização das ong`s, sindicatos de trabalhadores, associações etc, para impedir que o nosso cerrado continue virando reflorestamento de eucalipto.
Postado por Gusmão.
Fonte: www.luizcarlosgusmão-nortedeminas.blogspot.com

Microconto de Jaime Leitão- O urbanóide

O urbanóide comeu pequi do pé e se espetou até a alma.

sábado, 13 de novembro de 2010

Pequi, propriedade do povo



Fonte: blog do Ari Cunha, do Correio Braziliense, foto ilustrando o texto que tem o título acima.

Foto do pequi, publicada no jornal " O Estado de São Paulo"

O PEQUI EM DESTAQUE

Estudo sobre pequi leva 1º lugar em premiação nacional

O artigo é resultado da primeira dissertação de mestrado do Programa de Bioprospecção Molecular da Universidade Regional do Cariri (Urca)


As faculdades gastroprotetoras e cicatrizantes do pequi embasaram um artigo que rendeu ao Ceará o primeiro lugar do Brasil no “Prêmio Jayme Torres” concedido pelo Conselho Federal de Farmácia. O trabalho sobre o fruto, típico da região do cariri cearense, foi elaborado por docentes da Universidade de Fortaleza (Unifor), Universidade Estadual do Ceará (Uece), Universidade Regional do Cariri (Urca) e Universidade Federal do Ceará (UFC).

O artigo "Estudo da atividade gastroprotetora e cicatrizante de Caryocar coriaceum WITTM (Pequi)" concorreu na categoria Farmacêutico, dentro da modalidade plantas medicinais e/ou fitoterápicos. Ele é resultado da primeira dissertação de mestrado do Programa de Bioprospecção Molecular da Urca, defendida por Glauberto Quirino, professor do curso de Enfermagem da instituição e autor-colaborador do artigo, que teve como autora principal a professora Adriana Barros (Unifor/Urca), em conjunto com Gerlânia Leite (Urca), Luciana Rebelo (UFC), Adriana Tomé (Uece), José Galberto Costa (Urca) e André Herzog (Uerce/Urca).

O artigo dos pesquisadores do Ceará foi publicado em 2009 na revista Phytochemistry Letters, veículo oficial da Phytochemical Society of Europe (Sociedade Européia de Fitoquímica). Adriana Barros, que foi a primeira coordenadora do curso de Enfermagem da Urca, afirma que a descoberta revela o potencial de uso do pequi para a criação de um produto cicatrizante: uma pomada, por exemplo.

Como resultado do trabalho envolvendo o pequi, a Urca possui agora um Programa de Cooperação Acadêmica da CAPES, em parceria com a USP de Ribeirão Preto e Universidade Federal de Santa Maria (RS), além de um Doutorado em Ciências Biológicas em conjunto com a instituição gaúcha. De acordo com André Herzog, autor-colaborador do artigo, o estudo renderá ainda uma patente, que está em fase de elaboração.

Instituído em 2002, o Prêmio Jayme Torres foi criado, de acordo com o CFF, com o objetivo de estimular a pesquisa científica e a produção intelectual entre farmacêuticos e estudantes de Farmácia. Todos os trabalhos são apresentados em forma de artigo.

Fonte: site da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior da Universidade do Ceará.

PEQUI DO NORTE DE MINAS JÁ É EXPORTADO

Girleno Alencar - Sucursal de Montes Claros


Pequi em polpa

JAPONVAR – O pequi produzido no Norte de Minas está sendo comercializado em outros países, principalmente nos Estados Unidos, Itália e Portugal. A Cooperativa dos Produtores Rurais e Catadores de Pequi de Japonvar está embarcando cargas do produto para as colônias de brasileiros que moram nestes países.

O presidente da entidade, José Antônio Alves dos Santos, lembra que outros mercados estão sendo prospectados, através de parceria com o Sebrae-MG, que já marcou uma visita à Alemanha, dentro da proposta de se vender o pequi e seus derivados, como a polpa, óleo, farinha e tabletes concentrados.

“Apostar no mercado internacional é uma alternativa para manter economicamente a atividade, gerando empregos e renda”, lembra o presidente da cooperativa.


O pequi do Norte de Minas é considerado o melhor do Brasil, seja por sua polpa carnuda e também pela sua coloração forte. Atualmente, a Cooperativa de Pequi também comercializada o produto e seus derivados em todo o Estado de Minas Gerais, além de São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e no Distrito Federal. E estuda a colocação dos produtos em novos mercados internos. Os primeiros entendimentos estão sendo mantidos com o Piauí.

Também está sendo criada a Central do Cerrado, em Brasília, reunindo todas as cooperativas extrativistas dos estados que formam o bioma Cerrado, para, a partir de Brasília, ganhar mercados em todo o país. Com 11 anos de funcionamento, a Cooperativa de Japonvar é modelo nacional na agregação de ganhos.

Atualmente, cinco toneladas de polpa de pequi estão armazenadas na usina de beneficiamento da cooperativa, em bombonas com água e sal, onde o produto pode ficar por até quatro anos. À medida que o produto é embalado nos recipientes para venda ao consumidor, são inseridos conservantes que permitem manter a qualidade do produto por dois anos até ser consumido.

A maior produtividade da cooperativa foi alcançada em 2007, quando foram beneficiadas 12 toneladas de polpa de pequi. Na safra 2009/2010, terminada recentemente, pela primeira vez desde a sua fundação, a cooperativa deixou de comprar o pequi dos catadores, devido ao grande volume estocado, praticamente no limite da unidade, e à falta de capital de giro para ampliar o estoque.


Outro impedimento que fez a cooperativa pisar no freio das compras dos catadores, segundo o presidente José Antônio, foi o atraso do pagamento pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), já que a cooperativa fornece derivados do pequi para a merenda escolar, através de um contrato no valor de R$ 380 mil, dos quais R$ 100 mil já foram entregues, mas o pagamento não foi concretizado. A Conab prometeu fazer o pagamento do valor total em março.

Além do contrato para a merenda escolar, a cooperativa de Japonvar tem um outro assinado com a Conab, no valor de R$ 120 mil, para estocar a polpa, recursos que também não foram liberados.
Desta forma, a safra 2009/2010 do pequi, que deveria terminar em março, teve seu fim antecipado, segundo José Antônio dos Santos, também pelos efeitos das mudanças climáticas, salientando que a safra, em geral, começa em outubro e prossegue até março. Só que, neste ano, ela teve início em novembro e terminou no final de janeiro, sendo difícil encontrar pequi em fevereiro. “As chuvas garantiram uma florada vigorosa aos pequizeiros, mas os frutos acabaram abortando”, explica o presidente da cooperativa.




Com uma experiência de 53 anos como catador de pequi na região, José Antônio lembra que o fruto do pequizeiro é uma fonte de renda de grande importância para Japonvar. Pelas estimativas do Sebrae-MG, os frutos do pequizeiro movimentam cerca de R$ 2 milhões em negócios nos meses da safra, sendo a principal fonte de renda do município.

O auge da produção foi na safra 2007/2008, quando se alcançou 12 toneladas de pequi beneficiados na cooperativa de Japonvar, que geraram 120 empregos diretos. Nas safras seguintes, os valores caíram para cinco toneladas por safra. A cooperativa paga, em geral, R$ 5,00 pela caixa de pequi com 30 quilos, enquanto no início da safra o produto chega a alcançar até R$ 25,00.

(*) Matéria publicada no HOJE EM DIA, edição de 21.2.2010

A LENDA DO PEQUI

Marieta Teles Machado*



Tainá-racan tinha os olhos cor de noite estrelada. Seus cabelos desciam pelas espáduas com um tufo de seda negra e luzidia. O andar era elegante, cadenciado, macio como o de uma deusa passeando, flor entre flores, no seio da mata. Maluá botou os olhos em Tainá-racan e o coração saltou, louco e fogoso, no peito do jovem e formoso guerreiro. "Ela é mesmo linda como a estrela da manhã. Quero-a para minha esposa. Hei de amá-la enquanto durar a minha vida!"

Doce foi o encontro e, juntos e casados, a vida dos dois era bela e alegre com o ipê florido. De madrugada, Maulá saía para a caça e para a pesca, enquanto a esposa tecia os colares, as esteiras, moqueava o peixe, preparando o calugi para ofertar ao amado, quando ele chegasse com o cesto às costas, carregado de peixe e frutas, as mais viçosas, para oferecer-lhe.

O tempo foi passando, passando. No enlevo do amor, eles não perceberam quantas vezes a lua viajou pela arcada azul do céu, quantas vezes o sol veio e se escondeu na sua casa do horizonte. Floriram os ipês. Caíram as flores. Amareleceram as folhas, que o vento levava em loucas revoadas pelos campos. Os vermelhos cajus arcavam de fartura e beleza os galhos dos cajueiros. As castanhas escondiam-se no seio da terra boa. Rebentavam-se em brotos, e novos cajueiros despontavam. As cigarras enchiam as matas com sua forte sinfonia e sua vida evolava-se, aos poucos, em cada nota de seu canto. Nascimentos, mortes, transformações e os dias andando, andando.

Após três anos de casamento, numa noite bonita, em que o rio era um calmo dorso de prata à luz do luar e os bichos noturnos cantavam fundas tristezas e medos, Maluá encostou a cabeça no peito de Tainá-racan e apertou-a com ternura. No olhar de ambos, há muito, havia uma sombra. Nenhum deles tinha a coragem de falar. Uma palavra de mágoa, temiam, poderia quebrar o encanto de seu amor. A beleza da noite estremecia o coração sensível de Tainá-racan. Ela ajuntou a alma dos lábios e perguntou com voz trêmula, em sussurro:

-Estás triste, amado meu? Nem é preciso que respondas. Há tempo vejo uma sombra nos teus olhos.

-Sim, respondeu o valente guerreiro. Tu sabes que eu estou triste e tu também estás. A dor é a mesma.

-Onde está nosso filho que Cananxiué não quer mandar?

-Sim, onde está nosso filho?...

Maluá alisou com carinho o ventre da formosa esposa. "E o nosso filho não vem", murmurou. Dois pequeninos rios de lágrimas deslizaram pelas faces coradas de Tainá-racan. Um vento forte perpassou pela floresta. Uma nuvem escura cobriu a lua, que não mais tornava de prata as águas mansas do rio. Trovões reboaram ao longe. Maluá envolveu Tainá-racan nos braços e amou-a. "Nosso filho virá, sim. Cananxiué no-lo mandará".

Quando os ipês voltaram a florir, no ano seguinte, numa madrugada alegre, nasceu Uadi, o Arco-Íris. Era lindo, gordinho, tinha os olhos cor de noite estrelada como os da mãe e era forte como o pai. Mas, havia nele algo diferente, algo que espantou o pai, a mãe, a tribo inteira: Uadi tinha os cabelos dourados como as flores do ipê. Maluá recebeu o nascimento do filho como um presente de Cananxiué. Seu coração, contudo, estremeceu com a singularidade dele. Começou a espalhar pelo tribo a lenda de que o menino era filho de Cananxiué. O menino crescia cheio de encanto, alegria e de uma inteligência incomum. Fascinava a mãe, o pai, a aldeia, a tribo toda. Com rapidez incrível aprendeu o nome das coisas e dos bichos. Sabia cantar as baladas tristes e alegres que a mãe ensinava. Era a alegria e a festa da mãe, do pai, da tribo.

Um dia, Maluá, com outros guerreiros, foi chamado para a luta. Os olhos pretos de Tainá-racan encheram-se de lágrimas. O rostinho vivo de Uadi se ensombreceu. À despedida, seus bracinhos agarram-se ao pescoço do pai e ele falou: "Papai, vou-me embora para a noite, depois, chegarei à casa de Tainá-racan, a mãe, lá no céu". E seu dedinho róseo apontou o horizonte. O corpo de bronze do guerreiro se estremeceu. Seus lábios moveram-se, mas as palavras teimavam em não sair. Ele apertou, com força, o menino nos braços e, por fim, falou: "Que é isso, filhinho, tu não vais para lugar nenhum, nenhum deus te arrancará de mim. A tua casa é a casa de tua mãe, Tainá-racan, aqui na terra, e a de seu pai. Se for preciso, não partirei para a guerra. Ficarei contigo".

Nesse momento, Cananxuié, o senhor de todas as matas, de todos os animais, de todos os montes, de todos os valores, de todas as águas e de todas as flores, desceu do céu sob a forma de Andrerura, a arara vermelha, e gritou um grito forte: "Vim buscar meu filho!" Agarrou-o e levou-o pelos ares. Tainá-racan e Maluá caíram de joelhos. O guerreiro abriu os braços gritando: "O filho é nosso, sua casa é a de sua mãe, Tainá-racan, aqui na terra! Devolve meu filho, a Cananxiué! O grito de Maluá ecoou pela mata, ferindo de dor o silêncio. O peito do guerreiro palpitava de sofrimento como uma montanha ferida pelo terremoto. O velho chefe guerreiro aproximou-se dele, bateu-lhe no ombro e bradou: "Teus companheiros já partem. Maior que tua dor é tua honra de guerreiro e a glória de nossa tribo! Vai, meu filho, Cananxiué buscou o que é dele. Muitos outros filhos ele te dará. Tainá-racan é jovem. Tu és jovem. Vai, guerreiro, não deixa a dor matar sua coragem!"

Maluá partiu. Tainá-racan encostou a fronte na terra, onde pouco antes pisavam os pezinhos encantados de Uadi. Chorou. Chorou. Chorou três dias e três noites. Então, Cananxiué se apiedou dela. Baixou à terra e disse: "Das tuas lágrimas nascerá uma planta que se transformará numa árvore copada. Ela dará flores cheirosas que os veados, as capivaras e os lobos virão comer nas noites de luar. Depois, nascerão frutos. Dentro da casca verde, os frutos serão dourados como os cabelos de Uadi. Mas a semente será cheia de espinhos, como os espinhos da dor de teu coração de mãe. Seu aroma será tão tentador e inesquecível que aquele que provar do fruto e gostar, amá-lo-á para jamais o esquecer. Como também amará a terra que o produziu. Todos os anos, encherei, generosamente, sua copa de frutos, que os galhos se curvarão com a fartura. Ele se espalhará pelos campos, irá para a mesa dos pobres e dos ricos Quem estiver longe e não puder comê-lo sentirá uma saudade doida de seu aroma. Nenhum sabor o substituirá. Ele há de dourar todos os alimentos com que se misturar e, na mesa em que estiver, seu odor predominará sobre todos. Ele há de dourar também os licores, para a alegria da alma".

Tainá-racan ergue o olhar, aquele olhar onde brilhou a primeira estrela da consolação. E perguntou ao deus:

-Como se chamará, Cananxiué, esse fruto, cujo coração são os espinhos de minha dor, cuja cor são os cabelos de ouro de Uadi e cujo aroma é inesquecível como o cheiro dessa mata, onde brinquei com meu filhinho?

-Chamar-se-á Tamauó, pequi, minha filha. Quero ver-te alegre de novo, pois te darei muitos filhos, fortes e sadios como Maluá. E teu marido voltará cheio de glória da batalha, pois muitos séculos se passarão até que nasça um guerreiro tão destemido e tão honrado! Ele comerá deste fruto e gostará dele por toda a vida!"

Tainá-racan sorriu. E o pequizeiro começou a brotar.

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*(In Os Frutos Dourados do Pequizeiro, Marieta Teles Machado, Editora UCG, 1986)

Fonte: Altiplano.com.br (Goiânia, Goiás, Brasil, 2001)

O PEQUI CITADO POR GUIMARÃES ROSA EM GRANDE SERTÃO: VEREDAS

"De como, no prazo duma hora só, careci de ir me vendo escorando rifle (...) trepado em jatobá e PEQUIZEIRO , deitado no azul duma lage grande ".

Pequi- Foto de Marcio Cabral

FLOR DO PEQUI
Poema de Jaime Leitão

A flor do pequi
parece um beija-flor
em pleno voo
na flor da palavra
que o acolhe
fruta viva
que nasce na aridez
com a força
e a beleza
que só a flor do pequi tem.

Flor do pequi.
Extrema flor
que me toca
fundo
quando a vejo
diante dos meus olhos.